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30 de setembro de 2010

Reverências às amizades que ainda me acham poeta



Pois é, e não é que é mais difícil bolar uma agradecimento decente e que diga aquilo que realmente ando sentindo por todos ? Gente, continuo me obrigando com todos e achando lindo o mundo porque vocês existem.


Irineu Volpato

24 de setembro de 2010

FOTOS DO LANÇAMENTO DO LIVRO "QUANDO ÀS VEZES VIDA NOS DEVOLVE PARA DENTRO DE NÓS MESMOS.

 Coquetel de lançamento e noite de Autógrafos do Livro de Irineu Volpato no SESC  - Piracicaba - 24/09/2010



Autografando para o Athayde





Autografando para uma amiga




 Autografando para Antonia Segatto





Amigos prestigiando o Autor 




 Carmen e Silvia (ao fundo), Ivana Altafin, Antonia Segatto e seu esposo



Amigos presentes




 Leroy e Carla Ceres



Douglas Simões prestando homenagem ao Autor 




 Uma amiga, Lurdinha e Carmen



 Athayde, Mara, Irineu, Carmen e Carla Ceres





 Shirley, Esio, Ana e Silvia



O Autor laudeado pelos Amigos Poetas e Escritores




Esio, Ana, Silvia e Ivana Altafin

23 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XX



XX


Vestido solidão e voz dos dias

acontecia em seu ermo paz pausado

desenhado de espera e teimosia

porfia de limites deflorados



Susteve dias de sombras vadias

em que latia peito frustraneado

de demorados idos que vagiam

folhas se-cridas de papeis picados



Noites nesses dias espedaçavam

toadas de rumores em silêncio

tansas cicatrizes adelgaçavam



E ressumbrado do surto das ausências

ensaiava-se claustros que o guardavam

e látego suava sua querência



Irineu Volpato

19 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XIX




XIX


Veio inverno magriço de recheios
que águas de corguinho nem cantavam
Uns dias empoçados devaneios
esguios - serra e céus continuavam

Ventos frios demorados de passeio
caiam boca de noite e madrugavam
Se agasalhara vale com receio
que elegíacos ecos coivaravam

Tempo de pensar sopé-espinhaço
dos morros e de campos os baraços
para ensaiar amanho de plantio

Hora de inventar hálito de espera
prenhar a terra em vindo primavera
e celebrar a messe em fausto estio



Irineu Volpato

18 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XVIII




XVIII


Assim viveu vestido réstia canto
amando chão verde de sementes
rosto voz idade penha consistente
desenhado momentos entretantos

Como o pai - qualidade antigamente
jecou-se existir por ora enquanto
durou-se descobertas dos encantos
que terra devolveu sobejamente

Um pomar simplezinho boniteza
flores cores alegre redondeza
e campos emprenhados - Deus louvado !

Quando dia cansado desistia
dispersava-se em tarde que se ia
miudeza dissolvido de calado


Irineu Volpato

17 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XVII




XVII


Ouvia manhãs beiradas lambuzadas
sol curumim jecando ouro cores
a dispersar vigílias soletradas
dissolvência recheios e odores

Devassado ternuras transbordadas
colhido labirindo seus humores
celebrava-se de chuvas ofertadas
em terra devolvida fruto e flores

Dias iam a fluir trivialidades
vestidos solidão e fins de tardes
a pastorar ciranda salmo e messe

D’olhos palpando reles miudezas
rasgava além sorrisos redondezas
voz atada de mudez e prece


Irineu Volpato

16 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XVI




XVI


Havia de fecundar a primavera
esse cálice-outono em suas mãos
fluir de azul e voz ouro os grãos
ironias que crepúsculo lhe dera

Inda que regressar gume devera
silenciosamente solidão
sangraria arrancar-se voz de chão
sortilégios silêncios que aprendera

E gritos de impossiveis manhecidos
abortariam em tardes tumescidas
frutos colhidos de dourado chão

E o arder velado coração de espera
colhido aroma que restou das pérolas
beberia alegria migalha mão



Irineu Volpato

14 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XV




XV

Rés de mundo perdido - um buraco
só adivinhado por angusta trilha
terra - sobrou-lhe aquele naco
- herança uma avença de familia

Morraria acercava-o em cilha
um corguinho de vagar velhaco
se orlava de bambus algumas tílias
ali arranchou-se Sonho-cenáculo

Várzea braba - terra de sapé
mais pedras que abavam no sopé
magra nesga sobrava para o eito

Assuntou céu nuvens dentro a alma
férreo prumou-se de suprema calma
se atracou lida luta teima e jeito


Irineu Volpato

13 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XIV




XIV


Trenzinho ousava vale e seus apitos
ressangrava saracuras nos brejais
roubava solidões entre seus gritos
a encalço de trilhos sempre mais

Carroças que trepavam a passitos
uns morros que subiam canaviais
dissolviam-se olhos infinitos
vingados-lhes ternuras tremurais

Trem se ia desafiando dia
vale e morros de se entornar ilhados
singrados de mesmice teimosia

Sobravam amanhãs noutros cuidados
a roubar ungüento avesso da alegria
alma cosida de sonhos costurados


Irineu Volpato

12 de setembro de 2010

VARIA VEREDA XIII




XII


Dona Cândida-do-morro era parteira
desvelava seu ofício às carecidas
consumia-se estradas pertencida
a acudir cada prece mensageira

Fosse sol chuva noite seresteira
ia Candinha e seus passinhos de tangida
desvendar solidão duma parida
a desatar angústias derradeiras

De si pojou no mundo uma setena
de filhos pastorando alma verbena
navegou paz de netos escarcéu

Sustentou-se entre salmos e rosários
ao sendar seu postremo itinerário
seguiu fugaz... ...se a invocasse o céu


Irineu Volpato

11 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - XII




XII


Terma a safra encilhava sua mulinha
e vinha ao povoado mercanciar
fardado de melhor roupa que tinha
manhãzinha colhia-o num trotar

Dia se ia No morro os que ficavam
cismavam horas cumpridas seca espera
que milho que feijão que ali plantavam
saldassem precisão e coisas meras

E sol ia celebrava trás dos montes
e noite viajava de ciranda
quando mulinha trote roncinante

entumescia o quieto Na varanda
espera era magoada de resposta
“- comércio do povoado ‘tá uma bosta..”.


Irineu Volpato

10 de setembro de 2010

VARIA VEREDA XI




XI



E vale estilhaçava escuridão
galopado de nuvens aportadas
ventania singrava sua canção
com ramagens pulsando gargalhadas


Cosendo alma pequena e solidão
consumida entre árvores copadas
nossa casa tumescida de verão
decorava um novembro chuvarada

E espiava escutar fúria dos ventos
exercícios dos avessos elementos
e chuva a devassar-se atrocidade

Sabia entrementes céu breviaria
e que amanhã outra chuva novaria
diáfora do tempo - eternidade


Irineu Volpato

9 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - X




X


Assuntou olhos no céu Sol brunia
setembro consumia-se e horizonte
abstrato de azul se aborrecia
adeuses enredados pelos montes

Solidão de terra arada empoçava
descosidas esperanças de plantio
gume de estio chão cicatrizava
morriam de silêncio águas do rio

Setembro barganhou-se Estorvado
viveu outubro mesmas cicatrizes
de terra ensaiada pra raizes

Navegado rosto triste enevoado
no flanco dos enquantos e esperas
cariciava esconsos de quimera


Irineu Volpato

8 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - IX




IX


Sábado quando tarde se encolhia
e vestia-se céu manta açafrão
arriava seu um zaino que nitria
e emproado seguia de estirão

Em avesso de morro residia
cabrocha de epicédio coração
alma de azul acrescentado ia
breviado de trote em solidão

Já esperava-o morena na varanda
sorrisos olhos lerdos e lavanda
ali ficavam olhares mesma inana

consumindo vontades que trotavam
as tantas pai lá dentro pigarrava
-hora de ir - demorar outra semana



Irineu Volpato

7 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - VIII




VIII




Era data de matar porco cevado
já manhã se acordava esbaforida
pai apartava porco no cercado
em trempe a borbulhar água fervida

Doía ouvir o triste cuinchado
do cerdo que lanhado de ferida
se morria-morria estortegado
e o pelavam com água efervescida

Talhavam-no de após peça inteirinho
uns nacos mimoseavam aos vizinhos
e banha derretida enchia tonéis

Fazia-se linguiça o de restado
fritava-se e na banha mergulhado
durava de mistura quanto mês


VARIA VEREDA - VII



VII



No vale arrozal todo granado
ondeava suas espigas léu de vento
assim um mar um mar amarelento
com blandícias de carinho mitigado

Sol reimava finais de fevereiro
em tempo de cegar e colher messe
antes que março em chuva acontecesse
e em várzea arrozal desse barreiro

Enquanto se batia arroz na roça
a cada fim de dia uma carroça
trazia safra de sacas ao paiol

Limpo eito em terra só moínha
pastinhavam lá bandos de rolinha
a sombrearem luz cada arrebol

6 de setembro de 2010

VARIA VEREDA - VI




VI

Dois olhos infantis mareando céu
em preguiça de tarde sendo roça
brincavam nuvens altas ar-de-troça
por infinito azul a mudaréu

Coração de sigilo e cismas longas
alma voraz de esperas incrustadas
desfiavam-se amarras viajadas
a ecos martelados de arapongas

Amando vento que em seu rosto ria
partia coração de fantasia
por sendas de veredas em clareiras

E só acordando quando mãe ou fome
roubava-lhe dos sonhos de desnomes
repondo-o aos tropeços - vida useira


5 de setembro de 2010

ENTREVISTA PARA O JORNAL "INTERVALO" PÁGINA DE SILVÉRIO R COSTA




Entrevista de Irineu Volpato
a Silvério R Costa
para INTERVALO




1. Conta para nós quem é Irineu Volpato, o que já fez em matéria de literatura e quais os projetos para o futuro?

- Até agora juntei uns 20 livrinhos de poemas, desses que nem param em pé na estante, de tão magros. Para o futuro, continuar aprendendo enxergar as minimezas da vida e ir dizendo-as de modo mais síntese possível.

2. Sempre tive muita curiosidade em saber quais são seus autores preferidos e qual seu livro de cabeceira. Poderia revelá-los para nós ?

- Autor preferido... gosto de Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Casimeiro de Abreu, Manoel de Barros, Bernardin Ribeiro, Cesário Verde... acho... que de todos que escreveram poemas, inovando. De cabeceira nenhum, não consigo ler deitado.

3. Segundo Mário Quintana - “Ser poeta não é escrever grandes coisas, mas possuir uma voz capaz de ser reconhecida no meio das multidões”. Você tem essa voz, eu o afirmo. Ela é fruto de inspiração, ou da arquitetura da palavra ?

- Tenho que inspiração é primordial para qualquer criação artística, mas a oficinagem dela, o suor em cima da inspiração, especialmente do texto, limando-o, polindo-o é significantemente imprescindível e, respeito com a arte e com o leitor.

4. Eu conheço seu lado poeta, graças aos livros que você me encaminha. Nunca lhe ocorreu escrever textos em prosa. Por que? Ou eles existem e eu que é que desconheço ?

- Houve tempo de prosa em meu currículo. Brotei contos, uns até publicados em jornais, há algum tempo, mas voltei a insistir ser só poeta. Mesmo tradutor, traduzo apenas poetas.

5. Qual a sua opinião sobre o papel dos jornais alternativos, como o INTERVALO, por exemplo, na difusão da literatura brasileira, que alguns teimam em deixar nas trevas ?

- Acendo velas, lâmpadas, faróis para aqueles que sustentam essa literatura de resistência, que a oficial que e faz por desconhecê-la, mas que essa literatura seja com qualidade, tirocínio, pois que o que tem de gente boa, não oficial neste país... é só não juntá-los a qualquer súcia.




Fevereiro de 2002
De Sesmaria Eleuftéria
Santa Bárbara d’Oeste
Irineu Volpato

4 de setembro de 2010

“CONVERSA AO PÉ DO UMBIGO” ENTREVISTA PARA O JORNAL INTERVALO -PÁGINA SILVÉRIO COSTA




“CONVERSA AO PÉ DO UMBIGO”
PÁGINA DE SILVÉRIO COSTA
JORNAL INTERVALO





Silvério Costa - Conta para nós quem é Irineu Volpato, o que já fez em matéria
de literatura e quais os seus projetos para o futuro ?

Irineu Volpato - Em literatura me acho apenas aprendiz de poeta, com mínimas
incursões pela prosa (andei nos idos de 50/60 arremedando-me em contos, publicados à época, num jornal, de Piracicaba. Mais recém publiquei um livro em prosa sobre uma viagem por Grécia; também um diário- com título de Efêmeras, resultado dum conluio de grupo de Escritores em Movimento, do ABC, para dizermos com múltiplos olhos, do último ano dos anos novecentos). As primeiras reinações poéticas aconteceram num seminário, onde internei-me estudando.
Preso como todo aprendiz, a princípio, às formas fixas de quadra, soneto (hoje ainda ando repetindo-o como forma de manter disciplina de harmonia e rítmica do verso).
Um dia, de volta a Piracicaba, nem completados os 18 anos, entrei para um jornal diário,como revisor e aí me deram a primeira oportunidade de publicar poemas. Já então leitor de obras dos literatos de 22, bandeei-me para outras formas mais livres de versos e poemas (e segundo um pesquisador local, tempos atrás, disse ele serem esses meus poemas livres os primeiros com ares de modernismo, aparecidos em Piracicaba, e andávamos por 1952. Sem muito que admirar, pois que aqui no abc, quintal de S Paulo, apenas nos anos 60 se tomou conhecimento do modernismo de 22).
Vivi aí intensamente ambiente literário. Nessa época participei duas vezes da Maratona Euclidiana, em S José do Rio Pardo; fui co-fundador de diversos grêmios literários em colégios da cidade. Consegui em seguida uma página dominical no Jornal de Piracicaba, com artigos encomendados dos luminares lo-cais e muitos importados e traduzidos.
Quando bandeei-me para S Paulo, Capital, determinado completar meus estudos em Universidade e trabalhar em jornal ou numa editora e concretizar meu sonho de escritor. Veredas da vida.
Na Capital,trabalhando de dia para estudar à noite, um dia entendi que deveria me resolver entre a fome, literatura e minha realização profissional. Decidi-me pela realização profissional e, que a literária poderia esperar(como pôde. Só fui reativar-me produzindo literatura e participando em 1990, quando já assentado nas coisas de viver e existir, liberado de preocupações básicas, econômicas. Não que os poemas deixaram de incomodar-me nesse entrecho. E sempre que incomodavam transpunha-os para papel e deixava-os dormirem guardados. E sem nunca serem aproveitados em quaisquer livro depois. Era para não perder embocadura.
O tenho publicado de 1992 a esta data, foi produzido a partir daí. Acho que são uns 13 títulos de livros de poemas andando por aí. E quase outro tanto deles à espera de polimento, retrabalhação, até ganhar buquê, para aparecerem.
Dizer que ando planejando algo, não seria bem o correto. Imponho-me certo método de trabalho, bem disciplinado, quase rígido, de todo dia produzir algo, seja em meu estilo Motetos (poemas mínimos de até 4 versos, com predominância do de dois, como foram Apud, Ai-me Pressa...etc. Assim como os tocam instrumentos musicais e não podem perder a habilidade) ou poemas dum só tema, onde me alongo por até cinco dezenas de páginas.
Esse meu trabalho nos motetos, já ouvi de alguén, dá a alguns parecença que me repito-me em temas. Quero exclarecer que em cada retomada propositada procuro a recriação e mutante inovação dos temas. Num horror obsessivo de nunca repetir-me na forma e no dito.
E traduzo, como sou traduzido em espanhol, francês e italiano. Já me concederam prêmios(como o Salvatore Quasimodo, de Italia, o de Academia Fernandea, de Catanea, Itália), mesmo sem participação de concurso.

SC - Sempre tive muita curiosidade em saber quais são seus autores preferidos e qual é seu livro de cabeceira. Poderia revelá-los para nós

IV - Houve época de os poetas românticos brasileiros me perseguiam, espcialmente Castro Alves e L N Fagundes Varela. Vieram os parnasianos, os simbolistas, os da geração de 22. Um dia descobri a literatura gaúcha. Mas entre os poetas os que nunca sairam de minhas constantes releituras foram na poesia Bernardim Ribeiro, Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Manoel de Barros, Hilda Hilst. Na prosa vim por Alencar, Machado, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, João Felicio dos Santos, João Guimarães Rosa, mais russos e escandinavos. Cujos, hoje, não programo releitura, já que estão sempre distribuidos pela minha mesa de trabalho, abro-os ao léu em qualquer das páginas e me desembesto, horas por eles, sempre encontrando algo novo naquilo que ontem escapou.

SC - Segundo Mário Quintana- “Ser poeta não é escrever grandes coisas, mas possuir uma voz capaz de ser reconhecida no meio das multidões”. Você tem essa voz, eu o afirmo, Ela é fruto de inspiração, ou da rquitetura da palavra ?

IV - Não resta dúvida que somente inspiração, sem dom para as letras, dificilmente se chega ser escritor. E confiar também apenas que o dom(com inspiração) possa produzir obra literária reconhecível vai um amplo vazio. Todos nós que também fomos iniciantes, entramos para a literatura imitando, ou pelo menos tentanto andar pelas sombras de algum autor consagrado. Isso pode ter sido até salutar. Ruim no entanto aqueles que aí permanecem, sem tentar ultrapassar a fase e acabam com tempo acreditando-se literatos, mesmo a continuar pastichando. Ou repetindo, como se competissem, em prosa, em verso o que outros antes disseram igual e melhor. Pior ainda são aqueles, que cercam esses mesmeiros e passam elogiando como bom autor esses de reles trabalhos literários. Não encontro razão para que se dê espaço em publicação qualquer dessas produções, muito menos em páginas de livro, que nada acrescentam ou inovam(ah o chorrilho de antologias, tipo caça-níquel que infestam o meio!). E pior ainda quando os amigos do amigo acham de dizer, inventando-lhe genialidade, mais para exibir e terem publicadas também suas verborragias, tergiversam a realidade.
Na mesma linha do que disse Mário Quintana, porém mais específico, há um editor francês da revista Europoèsie, Philippe Caquant, que disse - “Talento em literatura tem aquele cujos trabalhos demonstrem que o autor conhece muito bem sua gramática, seu léxico, sua literatura, e o que ele escreve os leitores de imediato reconhecem tratar-se de produção dele”.
E que o trabalho literário é uma arquitetura, melhor, uma oficina da palavra também concordo. Nele o texto tem que ter seu tempo de espera, assentamento, para posterior limagem, limpeza, enxugamento, polimento, não há dúvida.
A retórica do discurso de promptu pode nos entusiasmar? Pois que se aproveita do imediato, do improviso, não dando ao ouvinte a temporização da de reflexão e análise? Mas passe ao leitor esse mesmo texto, transcrito para uma página, e verá se relendo-o resta-lhe o mesmo enleio, o quente impacto do ouvido? Tire das vozes dos recitadores esses poemas bombásticos e dê-lhes o frio texto transcrito duma página...
E minha resposta para o processo de criação literária.
A respeito, leia-se o que disse Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, no soneto A UM POETA, no seu livro A Tarde.

SC- Eu conheço seu lado poeta, graças aos livros que você me encaminha.
Nunca lhe ocorreu escrever textos em prosa. Por que ? Ou eles existem e eu
é que desconheço ?

IV - Já andei pelos caminhos da prosa, como disse na primeira resposta, esporadicamente hoje ainda ando (cito meus - Por Grécias, Efêmeras-um diário, uns artigos, uns prefácios, as cartas, que procuro responder à mão a cada um dos meus correspondentes). Mas aplico-me mesmo como aprendiz de poeta, inclusive traduzindo outros poetas de França, Uruguai, Argentina, México e Itália.

SC - Qual sua opinião sobre o papel dos jornais alternativos, como o INTERVALO, por exemplo, na difusão da literatura brasileira, que alguns teimam em deixar nas trevas.

IV - Meu caro Silvério, há-se que peneirar bem isso, de jornais alternativos. Ainda que eu tenha, que se deva festejar o esforço daqueles, que tantas vezes vendem tripas e coração para editarem um alternativo, mantê-lo circulando, honestamente não acendo vela alguma àqueles que desaparecem, quando passaram seu existir sem cumprirem um mínimo da literatura prestável. Sobre a sobrevivência daqueles que merecem nosso apreço, acho, caberia se pensasse mais fundamente cada caso (lembro a troca de ideias, tempos atrás com o amigo E.Waak, d’O Boêmio) para manutenção deles sem tantos sobressaltos. Mesmo àqueles jornais e colunas alternativas de jornais, como você produziu, que resistiu bravamente quanto pôde, sustentando sempre literatura de qualidade como na sua Fronte , e assim tantos outros de norte a sul (não vou nominar outros a fim de não ser injusto, esquecendo alguns) que primaram e primam peneirando e editando boa literatura, como resistindo ao oficial, esse que só edita o que lhe garante venda sem esforço.
No entanto, abro aqui exemplo para reflexão, e das mais justas, as editoras do Estado do Rio Grande do Sul, que hoje e sempre produziram muito boa literatura. Por que não precisam nem recorrem às do restante do Brasil, para sustentarem-se, editar, distribuir e vender a boa literatura produzida por lá ?



S Bernardo, março 2001

3 de setembro de 2010

ENTREVISTA PARA SIVÉRIO R DA COSTA




ENTREVISTA
PARA SILVÉRIO R. DA COSTA



1. Fale um pouco do Irineu Volpato, cidadão e poeta

IV- Nascido no mato(zona rural de Piracicaba-SP), Puseram-me para desemburricar numa escola rural a 6 km de casa. O caminho cortava pastos, linha de trem. Doía de molhado no tempo de frio.
Completei essa etapa de escola em cidadeDaí embutiram-me num seminário,durante uma setena de anos. E acabei o 2.o ciclo aqui fora, depois de prestar exames complementares, já que estudo na casa dos padres não servia para aqui fora. Depois embarquei para S Paulo, onde completei uns universitários e nunca mais voltei.
Oficios que desempenhei- em criança fiz-me ajudante em fábrica de bebidas, quando tornei do colegio fui trocando vida de garção, por auxiliar de escritório, por professor, revisor de jornal.
Em S Paulo, fui bancário, secretário de escola e finquei-me por 24 anos numa firma de petróleo.
Troquei o petróleo por gases onde me aposentei, isto é, troquei minha liberdade de emprego, pela prisão de autônomo.
O primeiro beliscão de poesia senti-o no seminário, onde lia escondido Varela, Castro Alves, Casimiro, Guilhermede Almeida, Menotti del Picchia e aquela turma de gauchos editados em Antologia, pela velha Bertazzo-Globo .
Fora do seminário, plantei-me em bibliotecas, querendo conhecer tudo. Depois enfiado em redação de jornal, na minha terra (primeiro foi no Diário, transferi-me depois ao Jornal, onde sustentei um página semanal, comentando literatura, conseguindo que os luminares da época escrevessem sobre ciência, filosofia, até trocassem farpas, brigassem por ideias nessa página ). Com alguns sonetos no bolso, consegui um dia editar. Então o caminho se abriu.
Passei a bicar no moderno,. versos soltos(que segundo um historiador de lá, esses meus poemas sem rimas foram os primeiros que apareceram ali. E rolavam os anos 50). De então não parei mais. Mesmo no interregno, aqui em S Paulo, quando me propus definir minha vida e apenas dedicar-me à profissão, guardava uns cadernos escondidos, dos poemas que não conseguia suportar.
Meu primeiro livro de poemas arrisquei-o em 53, Brumas e Brisas. O segundo 39 anos depois - Poemeus , e o seguiram Poemais, Poemantos e mais 14 . De entremeio uns prêmios em concursos e deles as antologias. E amigos de outras terras a quem traduzi e me traduziram. De França 4 livros. De México, Uruguai, Argentina somei mais 5 livros e autores.
Nesse interregno de homo-faber comprei e li quanto podia, o que saia de nacional e de estrageiros , o que conseguia,fosse de Chile ou franceses, mexicanos, italianos, espanhois, americanos, ingleses.
Quem me influenciou nessa retorta foram muitos a começar de Euclides da Cunha, depois Felício dos Santos, Guimarães Rosa, e tantos. Poetas foram os modernos de Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Jorge de Lma, Carlos Pena, Manoel de Barros, Hilda Hilst...bom parar. Cabral, Murilo, Drumond assim como Borges e Neruda só conseguiram espantar-me.

2. Numa epoca em que a palavra soa como algo fora da realidade, já que vivemos num tempo que predomina a imagem, como é para você ser poeta ? O que levou-o escrever poesia?

IV - Reataram-nos ver/ter o mundo por imagem, roubando do homem a conquista da palavra) onde ele se demonstra inteligência, raciocínio, lógica). Está difícil reachar como inverter esse comando.
Não bastasse a TV, invadiu-nos a Internet. E o que virá em seguida ?
Li recém, que o vocabulário médio em uso atualmente pela juventeude é inferior a mil palavras. Lembra-me que nos anos 50/60 os testes que mediam QI dos escolares ,tinham alto peso o uso númeroso de palavras. Um escolar de primeiro grau que utilizasse monos de 1200 palavras era considerado infra-normal.
Mas quantos ainda lêem ? Ainda não conseguiram nivelar a rebanho os seres humanos.
E também por que não tentar fazer que os versos do poema imaginem? E’ isso que venho intentando desde Apud para cá.

3. Você acredita que a poesia tem futuro no Brasil ?

IV - Se o teatro continua depois do cinema, e o rádio depois da TV e a carroça tem seu lugar, ainda depois do carro, e são apenas usos, modas, por que a poesia (esse sentimento que toca e move o ser humano, quando topa seja com os lindos ou com os horriveis da vida e pede manifestar-se) enquanto não descerebrizarem os humanos , desaparecerá?

4. Qual sua opinião sobre poesia visual(tão em voga) que conta, cada vez mais, com grandes cultores no Brasil ?

IV - A boa poesia visual não está com essa bola toda. Aqui no Brasil, seus principais já não estão mais nessa, embora persistam uns retardatários produzindo e outros abnegados editando.
Ainda bem que a poesia visual conseguiu apartar-se da concreta, assim como a arte postal.
Mas o que ainda se nota, todas elas andam patinando no experimental. Brinco às vezes de visual, mas assusta-me a inconsistência.
Para mim poemas, independente da forma apresentada, sempre que digam algo de novo, até entortando a forma de ver ou de pensar e, se renovem, não há o que decriminar.Porém que o poema “preste” ,dizendo assim na crua linguagem de povo.

5. Sua poesia apresenta um estilo diferente da praticada pelos chamados poetas lineares. A quem se deve tal influência ?

IV - Esse meu estilo de escrever, que você chama diferente e um bom número o dizem dificultoso, acho porque foge à linearidade. Procuro exercitar dentro da linguagem dos poemas todas as possibilidades, seja na busca da palavra exata ou na colocação dessa palavra dizendo pelo texto, assim como fizeram e fazem nossos bons poetas e prosadores. Se isto resulta diferente ou dificultoso, minha intenção não é mudar.

6. O Seu trabalho é fruto da inspiração ou da transpiração ?

IV - Sem a transpiração se vestirá mal a inspiração. O poema pode trazer até alguns ademanes bonitinhos. Mas poema mal vestido é como gente, passará sem ser notado ou notado pelo mau gosto de se apresentar.

7. Quais os poetas contemporâneos brasileiros que mais lhe agradam ? E por que ?

IV - Poetas que sempre me agrada(ra)m, são aqueles que cria(ra)m, que bem inventa( ra)m , encontrando nova forma de dizer o velho (já que de novos temas que mais há de se criar) ? Corroborando o que disse na questão anterior. Basta ler um João Cabral, um Gerardo Mourão, Manoel de Barros (especial nos mais antigo), Hilda Hilst etc.

8. Quem é seu poeta preferido ? Ele contribuiu de alguma forma, pra sua grande performance poética ?

IV - Tenho comigo que ninguém escapa impune da leitura dum poema , especialmente daqueles, quando acabados de ler, bate na gente a vontade de poemar. Só para citar, na base alternativa, quanta gente boa me entusiasma, e contibui para me (in)formar. Minha dívida é tanta !

9. Você acha que a cultura está tendo espaço que merece na mídia, em geral, e na televisão em particular ?

IV - Se isto que anda exposto na Tvs, borrado nos jornais e revistas, mesmo naquelas que se dizem especializadas, é cultura - ‘ab-renuntio”. A não ser os canais de Tv educativos (mesmo com certas ressalvas), quem pode apontar hoje um programa, um suplemento, mesmo uma página na mídia que possa ser considerada cultural ?
E as nossas universidades oficiais em que estão ajudando para difusão da cultura e mesmo nas demais exigências da sociedade que as financia, como educação, agricultura, saude, renovação ou implantação de tecnologias ?
E os nossos alternativos, sempre a reclamar e lamentar contra o oficioso e oficial, na sua maioria têm-se demonstrados culturais ? O que estão fazendo para aculturar ? Pelo que andam editando, sempre com a saida, de que se precisa dar oportunidade a todos, especialmente aos quem estáo querendo sair do limbo , não estão perdendo o sentido do que seja cultura, isto é, em literatura,que traga um mínimo de qualidade literária , inventiva, ou realce pelo menos uma promessa ?


10 - Qual a sua opinião sobre os concursos literários que proliferam por ai ?

IV - Concursos literários, raríssimos são os que guardam alguma seriedade e, estes em geral são aqueles promovidos por entidades oficiais. Os demais ou, são caça-niqueis, deslavados ou não, ou os idealizadores formam grupos de mútuo-socorro, ou os promotores querem passar por editores. E ainda aqueles que querem perenizar suas vaidades e nomes, à custa das vaidades dos que idolatram ver seus nomes impressos. Citar nomes ? Os que já veredaram algumas sendas nesse ofício da literatura os manjam muito bem, ainda que sempre transvistam seus métodos de abordar. E a
isto se misturam as antologias. Quantos editores de alternativos já não montaram sua(s) antologia(s)?
Confiados na contraprestação de publicação de peças em seus jornais ou revistas, soltam uma circular conclamando os publicados para somarem com ele. Resultará no que ?Qualidade, boa literatura ou mais volumes, que terão coragem de nos remeter, embaraçando-nos, a solicitar opinião sobre ?
Ressalvem-se, é claro, os que jeitosamente conseguem sobrenadar sobre essa medíocre mesmice.
Aos que não se pejam, por que compactuar ?





S Bernardo, abril 99

1 de setembro de 2010

VÁRIA VEREDA - SONETO II




II


Domingo trocaria côr do rango
lembrou-se - aniversário do marido
escolheu no quintal gordaço frango
dos quantos lá ciscavam distraídos

Penado no capricho cujo frango
de azeite temperou-o alho moído
regado com espécies de cipango
assar pô-lo em forno bem curtido

Manhã ia entre sons festas dos filhos
também ali vagava cão sarrilho
enquanto se aprontavam quantos pratos

Mesa posta - Cadê tal frango assado ?
pela janela viram cão esfaimado
a triturar do frango afinais tratos

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